'Ele retalhou meu nariz', diz paciente do cirurgião plástico suspeito de prejudicar ao menos 30 pessoas
Polícia Civil e o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) já iniciaram investigações sobre Alan Landecker, especialista em rinoplastia. O médico repudia as acusações e atribui o problema ao descumprimento das orientações pelos pacientes no pós-operatório.
Pacientes do renomado cirurgião plástico suspeito de deformar narizes em hospitais da cidade de São Paulo afirmaram que não tiveram alta mesmo dois anos após o procedimento estético, já que seguem em tratamento, sem acesso a um prontuário que oriente os próximos passos e sem entender exatamente como um procedimento para trazer benefícios emocionais trouxe tantos danos.
A Polícia Civil e o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) já iniciaram investigações sobre Alan Landecker, especialista em rinoplastia.
O médico disse que repudia as acusações e atribui o problema ao descumprimento das orientações pelos pacientes no pós-operatório (leia a nota ao final desta reportagem).
Marília Frank é outra paciente insatisfeita do dr. Alan Landecker. Ela registrou boletim de ocorrência e a polícia investiga o caso — Foto: Arquivo Pessoal |
"Fiz a cirurgia em maio deste ano e, quando ele tirou o último curativo, viu que a cartilagem estava podre. Meu nariz estava estragado, eu estava toda torta e ele me mandando pra casa tomar analgésico", disse ela ao g1.
30 pacientes lesados
"Foi meu infectologista quem o convenceu sobre uma segunda cirurgia, mas ele não tirou todo o tecido morto e a infecção tomou todo o meu rosto. Sigo em tratamento com um otorrino, que fez uma terceira cirurgia e prevê mais duas, sendo uma para reconstrução da columela porque ele retalhou meu nariz, e aí, sim, uma reparadora. Quero justiça. Ele me enrolou por dois meses e a impressão é de que estava lucrando com a infecção", continuou.
Marília registrou um dos boletins de ocorrência que orientam as investigações da polícia e, assim como os cerca de 30 pacientes que integram o grupo "Pacientes do Alan" no Whatsapp, teve complicações devido a uma grave infecção bacteriana.
"No pós-operatório, meu nariz não desinchou, com o passar dos dias começou a feder, com as pessoas do meu convívio percebendo o odor insuportável, até que no 15º dia abriu uma ferida", contou ele, acrescentando que foi o início de uma saga que já lhe custou R$ 300 mil, outras três cirurgias, o uso intravenoso de antibióticos duas vezes ao dia e sua saúde emocional.
Veraldino de Freitas Júnior realizou a cirurgia com Alan Landecker em setembro de 2020 e continua com uma ferida aberta — Foto: Arquivo Pessoal |
'Estou sem olfato'
Paula Oliveira, de 38 anos, também relata que a cirurgia impacta negativamente a vida dela, mesmo um ano após o procedimento.
Informações forjadas no prontuário
Outra paciente, uma empresária de 39 anos que prefere não se identificar, acionou as mesmas autoridades, e também o Ministério Público. Com Alan, ela fez cinco cirurgias, sendo a primeira em junho do ano passado, e continua tratando da infecção.
"Eu só queria um ajuste e hoje eu trato diariamente de um problema. Tenho buraco no septo, mas o caso vai muito além de questões estéticas e de saúde - tem uma prática antiética envolvida. Descobri que ele opera sem médico assistente, embora paguemos por isso. Quem o acompanha é um instrumentador. Ou seja, estimula e é conivente com o exercício ilegal da medicina. Outra coisa é o prontuário - quando o acesso não é blindado, há informações forjadas ou omitidas. No meu, por exemplo, não há menção ao uso que fiz de antibióticos. Isso é muito sério porque atrapalha o tratamento com outros profissionais. Ninguém quer pegar meu caso", completou.
O que diz o cirurgião
O g1 procurou o médico Alan Landecker. Em nota assinada pelos advogados Daniel Bialski e Fernando Lottenberg, ele repudiou as acusações, atribuiu os problemas ao descumprimento das orientações pelos pacientes e informou que está acionando a Justiça contra os ataques que têm sido feitos contra ele.
Veja, abaixo, a íntegra do comunicado:
"O Dr. Alan Landecker repudia com veemência as acusações formuladas.
Em todas as fases do atendimento, prestou a necessária assistência, inclusive na pós-cirúrgica, não podendo ser responsabilizado naqueles casos em que os pacientes não cumpriram o necessário protocolo de cuidados recomendados, omitindo uso de medicamentos, como imunossupressores; abandonando o tratamento ou não seguindo as orientações médicas.
Dentre os pacientes que tiveram problemas de infecção após a cirurgia, os casos mais graves foram causados por bactérias tipicamente hospitalares, tais como Mycobacterium, Pseudomonas, Achromobacter, Burkholderia, Stenotrophomonas e Klebsiella.
Ressalte-se que, dentre os poucos pacientes que tiveram infecção, a ampla maioria cumpriu as orientações até o final do tratamento, estando totalmente satisfeitos, tanto com a estética como com a função nasal.
A rinoplastia é a cirurgia estética mais complexa da especialidade. Dentre as mais de 4 mil cirurgias que nosso cliente realizou nestes 20 anos (principalmente casos complexos de correções de pretéritas rinoplastias malsucedidas, realizadas por outros profissionais), raras foram as complicações infecciosas pós-operatórias, correspondendo a apenas 0,5% entre os pacientes do Dr. Landecker, referência nacional e internacional nessa especialidade.
Todos os pacientes são previamente orientados sobre os cuidados necessários e acompanhados por até três anos após os procedimentos.
A correção, seriedade e competência do profissional serão demonstradas por meio de exames e documentos, havendo prova induvidosa de que não incorreu em falta ou erro de qualquer esfera.
As imputações e ataques à honra, religião e reputação do Dr. Landecker, nas redes sociais, são alvo de representações, ações criminais e cíveis e seus autores serão devidamente responsabilizados".
Fonte: G1